quinta-feira, 30 de junho de 2011

O barulho das palavras


Escutar significa receber alguém dentro de nós
Dizem que quando Deus quer falar, não precisa do barulho das palavras, fala nos acontecimentos, no silêncio da natureza, fala como quer e do jeito que quer. Mas será que quando o Todo-poderoso quer falar estamos dispostos a ouvi-Lo? Eis a questão. Parece que, nos dias atuais, nossos ouvidos estão sempre ocupados. Escolhemos o que queremos ouvir, colocamos o fone e esquecemos o mundo à nossa volta. Como o Senhor costuma falar de um jeito sempre novo, fica difícil conseguirmos identificar Sua voz. Talvez nem paremos para pensar sobre isso, mas o fato é que a vida segue um ritmo tão acelerado que já não temos tempo para ouvir: nem uns aos outros nem a Deus.

Escutar é uma bela arte, saber falar também... Acredito que, se estamos buscando um crescimento espiritual, precisamos dar passos neste sentido, porque só conseguimos ouvir a voz de Deus se nossos ouvidos estiverem treinados em ouvir as pessoas. Você sabe o que se passa com a pessoa que está ao seu lado, seja no trabalho, em casa ou na escola? Costuma perguntar como foi o dia daqueles que convivem com você? É fácil perceber que há pouco interesse em ouvir o outro, talvez porque para fazê-lo é preciso esvaziar-se de si mesmo, e este é um desafio que, apesar de construtivo, nem sempre é apreciado.

Hoje dizer “faça silêncio”, talvez não seja a solução se quisermos crescer como pessoa, pois existem vários tipos de silêncio e nem todos são produtivos. Há silêncios, por exemplo, que são tidos como sábios. Outros, como necessários e outros ainda como indiferença. Portanto, antes de “resolver silênciar, precisamos ter a motivação certa. Já que, muitas vezes, a maior caridade não é simplesmente calar, mas sim ouvir e acolher a quem precisa falar.



É assustador, mas real, há muitas pessoas morrendo porque não conseguem ninguém que as escute. Ocupados com aquilo que escolhemos ouvir, vamos nos deixando embalar pela música que nos toca e não pelas situações que nos cercam.

Outro dia fiquei admirada com o que presenciei. Estava em um consultório médico e chegaram dois jovens, um rapaz e uma moça, não sei se eram irmãos ou amigos, não creio que seriam um casal, apesar de terem chegado juntos. Já sentados, trocaram algumas palavras e, em alguns minutos, cada um colocou o fone nos ouvidos e o silêncio reinou. Passei um bom tempo ainda no lugar e não os ouvi trocar uma palavra sequer. Coisa estranha, não é? Por que será que o som que sai do fone é mais interessante do que a vida de quem está ao nosso lado? Por que será que os meios que vêm para comunicar acabam nos roubando a comunicação? Penso que é hora de darmos mais atenção à forma como temos lidado com essa realidade e valorizarmos mais o diálogo.

Tanto as palavras como o silêncio têm sua força, negativa ou positiva; é grande sabedoria saber usá-los, mas é preciso usá-los. As palavras fazem parte da nossa essência, comunicar é preciso! Com palavras nos aproximamos ou nos afastamos do outro, apaziguamos ou ferimos. Damos ou tiramos a vida. Marcamos nossas escolhas com palavras e falar com a vida, com paixão, com os olhos, com os gestos, com a alma e com amor é transmitir esperança a quem nos ouve. Porém, na hora de escutar as pessoas, o barulho das palavras não ajuda nada. E aí entra o importante papel do silêncio.

Escutar significa receber alguém dentro de nós, em nosso coração e isso quase sempre se dá no silêncio. Por isso, é preciso ouvir a pessoa ! Não o que dizem da pessoa ou o que imaginamos a seu respeito, mas escutar a própria pessoa. Dar tempo para a pessoa falar. Parar o que estamos fazendo e olhar para a pessoa com a atenção que ela merece. É mais do que simplesmente ouvir palavras, é acolher a pessoa do jeito que ela está, com suas dores ou alegrias. É exigente, mas benéfico, pois quando escuto o outro, aprendo com ele, cresço com suas experiências e evito muitos erros.

Já observou que nossos problemas, muitas vezes, tomam proporções maiores do que as reais, justamente porque não escutamos as pessoas? Fiquemos atentos e procuremos dar mais atenção àqueles que nos cercam. Silenciar, sim, o silêncio tem um valor incalculável, mas que nosso silêncio não seja de indiferença e sim de acolhimento.

Penso que saber ouvir e saber falar é antes uma questão de respeito e amor à própria vida. Praticar essa arte é um dom.

Se enquanto você estiver lendo este texto, perceber que o barulho das palavras o tem impedido de ser melhor, tenha a coragem de recomeçar, silenciando. Por outro lado, se perceber que seu silêncio não tem produzido vida, saia dele o quanto antes e vá ao encontro do outro, levando uma palavra de esperança. Em todo caso, viva bem o hoje; apaixone-se pela vida. Partilhe suas lutas e conquistas. Faça pausas para escutar os outros e, pela força da comunicação, dê mais qualidade aos seus dias e seja feliz.
Foto Dijanira Silva
dijanira@geracaophn.com
Dijanira Silva Apresentadora da Rádio CN FM 103.7 em Fátima Portugal


terça-feira, 28 de junho de 2011

ENCONTRO DO DIA 26/06 - SONHOS

AS TRÊS ÁRVORES


Havia no alto de uma montanha três árvores que sonhavam o que seriam 
depois de grandes.

A primeira, olhando as estrelas disse:
"Eu quero ser o baú mais precioso do mundo, cheio de tesouros."

A segunda, olhando o riacho suspirou:
"Eu quero ser um navio grande para transportar reis e rainhas."

A terceira olhou para o vale e disse:
"Quero ficar aqui no alto da montanha e crescer tanto que as
 pessoas, ao olharem para mim, levantem os olhos e pensem em Deus."

Muitos anos se passaram e, certo dia, três lenhadores cortaram as árvores.

Todas três ansiosas em serem transformadas naquilo que sonhavam. 
Mas, os lenhadores não costumavam ouvir ou entender de sonhos... Que pena!

A primeira árvore acabou sendo transformada em um cocho de animais,
 coberto de feno.
A segunda, virou um simples barco de pesca, carregando pessoas
 e peixes todos os dias.


A terceira, foi cortada em grossas vigas e colocada num depósito.

Então, todas perguntaram desiludidas e tristes:

- Por que isto?

Mas, numa bela noite, cheia de luz e estrelas, uma jovem mulher 
colocou seu bebê recém-nascido naquele cocho de animais.
 E de repente, a primeira árvore percebeu que continha
 o maior tesouro do mundo.

A segunda árvore acabou transportando um homem que terminou
dormindo no barco, mas quando a tempestade quase afundou o barco,
 o homem levantou-se e disse "PAZ !". E num relance, a segunda árvore
 entendeu que estava transportando o rei do céu e da terra!

Tempos mais tarde, numa sexta-feira, a terceira árvore espantou-se
 quando suas vigas foram unidas em forma de cruz e um homem foi
 pregado nela. Logo, sentiu-se horrível e cruel.
 Mas, no domingo seguinte, 
o mundo vibrou de alegria. 
E a terceira árvore percebeu que nela havia 
sido pregado um homem para salvação da humanidade e que as pessoas
 sempre se lembrariam de DEUS e de seu FILHO ao olharem para ela.

As árvores haviam tido sonhos e desejos... mas sua realização foi mil vezes 
maior do que haviam imaginado.

Portanto, nunca deixe de acreditar em seus sonhos, mesmo que
 aparentemente eles sejam impossíveis de se realizar.

(Autor desconhecido)

quarta-feira, 22 de junho de 2011

SOLENIDADE DE CORPUS CHRISTI




 

 A Solenidade Litúrgica do Corpo e Sangue de Cristo,
conhecida popularmente
 como “Corpus Christi”, começou a ser celebrada há
 mais de sete séculos e meio, em 1246, na cidade belga de Liège, tendo sido
 alargada à Igreja universal pelo Papa Urbano IV através
 da bula “Transiturus”,
em 1264, dotando-a de missa e ofício próprios.

Em 1311 e em 1317 foi novamente recomendada pelo
Concílio de Vienne (França)e pelo Papa João XXII,
 respectivamente. Nos primeiros
 séculos, a Eucaristia era adorada publicamente,
 mas só durante o tempo da missa e da comunhão. A
 conservação da hóstia consagrada fora prevista,
originalmente, para levar a comunhão aos doentes e ausentes.

Só durante a Idade Média se regista, no Ocidente, um culto dirigido
 mais deliberadamente à presença eucarística, dando maior relevo
 à adoração. No século XII é introduzido um novo rito na celebração
 da Missa: a elevação da hóstia consagrada, no momento da
consagração. No século XIII, a adoração da hóstia desenvolve-se
 fora da missa e aumenta a afluência popular à procissão do
Santíssimo Sacramento. A procissão do Corpo e Sangue de
Cristo é, neste contexto, a última da série, mas com o passa
r dos anos tornou-se a mais importante.

Do desejo primitivo de “ver a hóstia” passou-se para uma
festa da realeza de Cristo, na “Chirstianitas” medieval, em que
 a presença do Senhor bendiz a cidade e os homens.

A “comemoração mais célebre e solene do Sacramento
 memorial da Missa” (Urbano IV) recebeu várias denominações
 ao longo dos séculos: festa do Santíssimo Corpo de Nosso Senhor
 Jesus Cristo; festa da Eucaristia; festa do Corpo de Cristo.
Hoje denomina-se solenidade do Corpo e Sangue de Cristo,
 tendo desaparecido a festa litúrgica do “Preciosíssimo Sangue”, a 1 de Julho.

A procissão com o Santíssimo Sacramento é recomendada
 pelo Código de Direito Canónico, no qual se refere que
“onde, a juízo do Bispo diocesano, for possível, para testemunhar
publicamente a veneração para com a santíssima Eucaristia faça-se
 uma procissão pelas vias públicas, sobretudo na solenidade do
 Corpo e Sangue de Cristo” (cân 944, §1).

                                   
Detalhando o início da Solenidade 

Primeiras devoções 

No final do século XIII surgiu em Lieja, Bélgica, um Movimento

 Eucarístico cujo centro foi a Abadia de Cornillon fundada 
em 1124 pelo Bispo Albero de Lieja. Este movimento deu 
origem a vários costumes eucarísticos, como por exemplo
 a Exposição e Bênção do Santíssimo Sacramento, o uso dos
 sinos durante a elevação na Missa e a festa do Corpus Christi. 

                           
Santa Juliana 

                  
Santa Juliana de Mont Cornillon, naquela época priora da Abadia,
 foi a enviada de Deus para propiciar esta Festa. A santa nasceu em
Retines perto de Liège, Bélgica em 1193. Ficou órfã muito pequena e
 foi educada pelas freiras Agostinas em Mont Cornillon. Quando cresceu,
 fez sua profissão religiosa e mais tarde foi superiora de sua comunidade.
 Morreu em 5 de abril de 1258, na casa das monjas Cistercienses em Fosses
 e foi enterrada em Villiers.

Desde jovem, Santa Juliana teve uma grande veneração ao
 Santíssimo Sacramento. E sempre esperava que se tivesse
 uma festa especial em sua honra. Este desejo se diz ter
 intensificado por uma visão que teve da Igreja que significaria
 a ausência dessa solenidade.

Juliana comunicou estas aparições a Dom Roberto de Thorete,
 o então bispo de Lieja, também ao douto Dominico Hugh, mais
 tarde cardeal legado dos Países Baixos e Jacques Pantaleón,
 nessa época arquidiácono de Lieja, mais tarde ao Papa Urbano IV.

As primeiras festas locais

O bispo Roberto ficou impressionado e, como nesse tempo
 os bispos tinham o direito de ordenar festas para suas
dioceses, em 1246 ordenou que a celebração fosse
 feita no ano seguinte, ao mesmo tempo o Papa
ordenou, que um monge de nome João escrevesse
 o ofício para essa ocasião. O decreto está preservado
em Binterim (Denkwürdigkeiten, V.I. 276), junto
 com algumas partes do ofício.

Dom Roberto não viveu para ser a realização de sua ordem,
 já que morreu em 16 de outubro de 1246, mas a festa foi
 celebrada pela primeira vez no ano seguinte a quinta-feira
posterior à festa da Santíssima Trindade. Mais tarde um bispo
 alemão conheceu os costume e a o estendeu por toda a atual Alemanha.
      
Milagres motivadores

O Papa Urbano IV, naquela época, tinha a corte em Orvieto,
um pouco ao norte de Roma. Muito perto desta localidade está
 Bolsena, onde em 1263 ou 1264 aconteceu o Milagre de Bolsena:
 um sacerdote que celebrava a Santa Missa teve dúvidas de que a
 Consagração fosse algo real, no momento de partir a Sagrada Forma,
viu sair dela sangue do qual foi se empapando em seguida o corporal.
 A venerada relíquia foi levada em procissão a Orvieto em 19 junho de 1264.
Hoje se conservam os corporais - onde se apóia o cálice e a patena
 durante a Missa - em Orvieto, e também se pode ver a pedra do
 altar em Bolsena, manchada de sangue.

A Proclamação da Solenidade

PAPA URBANO IV

O Santo Padre movido pelo prodígio, e a petição de vários bispos,
 faz com que se estenda a festa do Corpus Christi a toda a Igreja
 por meio da bula "Transiturus" de 8 setembro do mesmo ano,
fixando-a para a quinta-feira depois da oitava de Pentecostes e
 outorgando muitas indulgências a todos que  asistirem
 a Santa Missa e o ofício. 

Em seguida, segundo alguns biógrafos, o Papa Urbano IV
 encarregou um ofício a São Boaventura e a Santo Tomás
 de Aquino; quando o Pontífice começou a ler em voz alta
 o ofício feito por Santo Tomás, São Boa-ventura foi rasgando
o seu em pedaços. 

A morte do Papa Urbano IV (em 2 de outubro de 1264),
 um pouco depois da publicação do decreto, prejudicou
 a difusão da festa. Mas o Papa Clemente V tomou o
 assunto em suas mãos e, no concílio geral de Viena (1311),
ordenou mais uma vez a adoção desta festa.
Em 1317 é promulgada uma recompilação
de leis - por João XXII - e assim a festa é estendida a toda a Igreja.

Nenhum dos decretos fala da procissão com o Santíssimo
como um aspecto da celebração. Porém estas procissões
 foram dotadas de indulgências pelos Papas Martinho V e
 Eugênio IV, e se fizeram bastante comuns a partir do século XIV.

A festa foi aceita em Cologne em 1306; em Worms a adotaram
 em 1315; em Strasburg em 1316. Na Inglaterra foi introduzida da
 Bélgica entre 1320 e 1325. Nos Estados Unidos e nos
 outros países a solenidade era celebrada no domingo
 depois do domingo da Santíssima Trindade.

Na Igreja grega a festa de Corpus Christi é conhecida
 nos calendários dos sírios, armênios, coptos, melquitas
e os rutínios da Galícia, Calábria e Sicília.

Finalmente, o Concílio de Trento declara que muito piedosa
 e religiosamente foi introduzida na Igreja de Deus o costume,
 que todos os anos, determinado dia festivo, seja celebrado
 este excelso e venerável sacramento com singular veneração
 e solenidade; e reverente e honorificamente seja levado em
procissão pelas ruas e lugares públicos. Nisto os cristãos
 expressam sua gratidão e memória por tão inefável e
verdadeiramente divino benefício, pelo qual se faz
novamente presente a vitória e triunfo sobre a morte
 e ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo 

Agência Ecclesia e ACI Digital 

segunda-feira, 20 de junho de 2011

SANTÍSSIMA TRINDADE



Só existe um Deus, mas n'Ele há três Pessoas divinas distintas: Pai, Filho e Espírito Santo.



O mistério da Santíssima Trindade é o mistério central da fé e da vida cristã. Deus se revelou como Pai, Filho e Espírito Santo. Foi Nosso Senhor Jesus Cristo quem nos revelou este mistério. Ele falou do Pai, do Espírito Santo e d'Ele mesmo como Deus. Logo, não é uma verdade inventada pela Igreja, mas revelada por Jesus. Não a podemos compreender, porque o Mistério de Deus não cabe em nossa cabeça, mas é a verdade revelada.

Santo Agostinho (†430) dizia que: “O Espírito Santo procede do Pai enquanto fonte primeira e, pela doação eterna deste último ao Filho, do Pai e do Filho em comunhão” (A Trindade, 15,26,47).

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Ouça Podcast sobre a Santíssima Trindade com professor Felipe



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Só existe um Deus, mas n'Ele há três Pessoas divinas distintas: Pai, Filho e Espírito Santo. Não pode haver mais que um Deus, pois este é absoluto. Se houvesse dois deuses, um deles seria menor que o outro, e Deus não pode ser menor que outro, pois não seria Deus.

A Trindade é Una. “Não professamos três deuses, mas um só Deus em três Pessoas: “A Trindade consubstancial” (II Conc. Constantinopla, DS 421). “O Pai é aquilo que é o Filho, o Filho é aquilo que é o Pai, o Espírito Santo é aquilo que são o Pai e o Filho, isto é, um só Deus por natureza” (XI Conc. Toledo, em 675, DS 530). “Cada uma das três pessoas é esta realidade, isto é, a substância, a essência ou a natureza divina” (IV Conc. Latrão, em 1215, DS 804).

A Profissão de Fé do Papa Dâmaso diz: “Deus é único, mas não solitário” (Fides Damasi, DS 71). “Pai”, “Filho”, “Espírito Santo” não são simplesmente nomes que designam modalidades do ser divino, pois são realmente distintos entre si: “Aquele que é Pai não é o Filho, e aquele que é o Filho não é o Pai, nem o Espírito Santo é aquele que é o Pai ou o Filho” (XI Conc. Toledo, em 675, DS 530). São distintos entre si por suas relações de origem: “É o Pai que gera, o Filho que é gerado, o Espírito Santo que procede” (IV Conc. Latrão, e, 1215, DS 804).

A Igreja ensina que as Pessoas divinas são relativas umas às outras. Por não dividir a unidade divina, a distinção real das Pessoas entre si reside unicamente nas relações que as referem umas às outras:

“Nos nomes relativos das Pessoas, o Pai é referido ao Filho, o Filho ao Pai, o Espírito Santo aos dois; quando se fala destas três Pessoas, considerando as relações, crê-se todavia em uma só natureza ou substância” (XI Conc. Toledo, DS 675). “Tudo é uno [n'Eles] lá onde não se encontra a oposição de relação” (Conc. Florença, em 1442, DS 1330). “Por causa desta unidade, o Pai está todo inteiro no Filho, todo inteiro no Espírito Santo; o Filho está todo inteiro no Pai, todo inteiro no Espírito Santo; o Espírito Santo, todo inteiro no Pai, todo inteiro no Filho” (Conc. Florença, em 1442, DS 1331).

Aos Catecúmenos de Constantinopla, S. Gregório Nazianzeno (330-379), “o Teólogo”, explicava:

“Antes de todas as coisas, conservai-me este bem depósito, pelo qual vivo e combato, com o qual quero morrer, que me faz suportar todos os males e desprezar todos os prazeres: refiro-me à profissão de fé no Pai e no Filho e no Espírito Santo. Eu vo-la confio hoje. É por ela que daqui a pouco vou mergulhar-vos na água e vos tirar dela. Eu vo-la dou como companheira e dona de toda a vossa vida. Dou-vos uma só Divindade e Poder, que existe Una nos Três, e que contém os Três de maneira distinta. Divindade sem diferença de substância ou de natureza, sem grau superior que eleve ou grau inferior que rebaixe [...]. A infinita conaturalidade é de três infinitos. Cada um considerado em si mesmo é Deus todo inteiro [...]. Deus os Três considerados juntos. Nem comecei a pensar na Unidade, e a Trindade me banha em Seu esplendor. Nem comecei a pensar na Trindade, e a unidade toma conta de mim (Or. 40,41).

O primeiro Catecismo, chamado "Didaqué", do ano 90 dizia:

"No que diz respeito ao Batismo, batizai em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo em água corrente. Se não houver água corrente, batizai em outra água; se não puder batizar em água fria, façais com água quente. Na falta de uma ou outra, derramai três vezes água sobre a cabeça, em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo" (Didaqué 7,1-3).

São Clemente de Roma, Papa no ano 96, ensinava: "Um Deus, um Cristo, um Espírito de graça" (Carta aos Coríntios 46,6). "Como Deus vive, assim vive o Senhor e o Espírito Santo" (Carta aos Coríntios 58,2).

Santo Inácio, bispo de Antioquia (†107), mártir em Roma, afirmava: "Vós sois as pedras do templo do Pai, elevado para o alto pelo guindaste de Jesus Cristo, que é a sua cruz, com o Espírito Santo como corda" (Carta aos Efésios 9,1).

"Procurai manter-vos firmes nos ensinamentos do Senhor e dos Apóstolos, para que prospere tudo o que fizerdes na carne e no espírito, na fé e no amor, no Filho, no Pai e no Espírito, no princípio e no fim, unidos ao vosso digníssimo bispo e à preciosa coroa espiritual formada pelos vossos presbíteros e diáconos segundo Deus. Sejam submissos ao bispo e também uns aos outros, assim como Jesus Cristo se submeteu, na carne, ao Pai, e os apóstolos se submeteram a Cristo, ao Pai e ao Espírito, a fim de que haja união, tanto física como espiritual" (Carta aos Magnésios 13,1-2).

São Justino, mártir no ano 151, escreveu essas palavras ao imperador romano Antonino Pio: "Os que são batizados por nós são levados para um lugar onde haja água e são regenerados da mesma forma como nós o fomos. É em nome do Pai de todos e Senhor Deus, e de Nosso Senhor Jesus Cristo, e do Espírito Santo que recebem a loção na água. Este rito foi-nos entregue pelos apóstolos" (I Apologia 61).

São Policarpo de Esmirna, que foi discípulo de S. João evangelista, mártir no ano 156, declarou: "Eu te louvo, Deus da Verdade, te bendigo, te glorifico por teu Filho Jesus Cristo, nosso eterno e Sumo Sacerdote no céu; por Ele, com Ele e o Espírito Santo, glória seja dada a ti, agora e nos séculos futuros! Amém" (Martírio de Policarpo 14,1-3).

Teófilo de Antioquia, ano 181, confirmou: "Igualmente os três dias que precedem a criação dos luzeiros são símbolo da Trindade: de Deus [=Pai], de seu Verbo [=Filho] e de sua Sabedoria [=Espírito Santo]" (Segundo Livro a Autólico 15,3).

S. Irineu de Lião, ano 189, afirmou: "Com efeito, a Igreja espalhada pelo mundo inteiro até os confins da terra recebeu dos apóstolos e seus discípulos a fé em um só Deus, Pai onipotente, que fez o céu e a terra, o mar e tudo quanto nele existe; em um só Jesus Cristo, Filho de Deus, encarnado para nossa salvação; e no Espírito Santo que, pelos profetas, anunciou a economia de Deus [...]" (Contra as Heresias I,10,1).

"Já temos mostrado que o Verbo, isto é, o Filho esteve sempre com o Pai. Mas também a Sabedoria, o Espírito estava igualmente junto d'Ele antes de toda a criação" (Contra as Heresias IV,20,4).

Tertuliano, escritor romano cristão, no ano 210: "Foi estabelecida a lei de batizar e prescrita a fórmula: 'Ide, ensinai os povos batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo'" (Do Batismo 13).

E o Concílio de Nicéia, ano 325, confirmou toda essa verdade:

"Cremos [...] em um só Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus, nascido do Pai como Unigênito, isto é, da substância do Pai, Deus de Deus, luz da luz, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro, gerado, não feito, consubstancial com o Pai, por quem foi feito tudo que há no céu e na terra. [...] Cremos no Espírito Santo, Senhor e fonte de vida, que procede do Pai, com o Pai e o Filho é adorado e glorificado, o qual falou pelos Profetas" (Credo de Nicéia).












Felipe Aquino

felipeaquino@cancaonova.com

Prof. Felipe Aquino, casado, 5 filhos, doutor em Física pela UNESP. É membro do Conselho Diretor da Fundação João Paulo II. Participa de aprofundamentos no país e no exterior, escreveu mais de 60 livros e apresenta dois programas semanais na TV Canção Nova: "Escola da Fé" e "Trocando Idéias". Saiba mais em Blog do Professor Felipe Site do autor: www.cleofas.com.br

segunda-feira, 13 de junho de 2011

As tribos urbanas





Rodeadas de códigos e normas, estudadas por sociólogos e psicólogos, mal entendidas por muitos, crescendo e se multiplicando, mudando hábitos, costumes e práticas sociais, aí estão as tribos urbanas que podem ser caracterizadas como um fenômeno juvenil dos grandes centros e que, dia após dia, ampliam sua atuação e aumentam seus adeptos. Do que se trata?



Estamos acostumados a ver jovens “normais” em nossas comunidades e/ou cidades. O máximo do diferente é alguém com um corte de cabelo não comum, ou com uma calça jeans toda rasgada, ou ainda, jovens com roupa de cor exótica e cheios de correntes, pulseiras, botons, anéis etc. Isso não parece preocupar. No máximo, causa espanto e é motivo de gozação.



Porém, por enquanto, essa atitude é característica de nossas cidades pequenas. Nos grandes centros urbanos (e o mundo se urbaniza cada vez mais), o diferente já se organiza, tem normas, leis, códigos, adeptos...



Cedo ou tarde este fenômeno da juventude moderna chegará até nós. É importante que conheçamos as razões de tal fenômeno para sabermos agir diante dele.



Punks, Skinheads, Rappers, White Powers, Clubbers, Grunges, Góticos, Drag Queens. Estes são apenas alguns grupamentos juvenis, chamados pelos sociólogos de “tribos urbanas”, encontrados diariamente nos grandes centros. As “drag queens”, tipo atualmente em destaque na mídia e considerado o mais exótico, são na verdade homens vestidos de mulher. Duas diferenças básicas as diferenciam dos travestis: não se prostituem nem modelam seus corpos com silicone ou hormônios. Ser drag significa dar vida a um personagem. Eles se preocupam com a moda, possuem uma linguagem específica e brincalhona, são irreverentes e pareciam os gêneros musicais contemporâneos. Podemos dizer que esse jeito, toda essa brincadeira, essa festa, característica das Drag Queens, vem como uma resposta a uma série de dificuldades sociais importantes.



Os Grunges, filhos legítimos da recessão mundial, nasceram em Seatle, nos Estados Unidos, e são caracterizados pela sua indumentária: bermudão abaixo dos joelhos, tênis sujos, barbichas, calças rasgadas etc. Eles transformaram o desleixo numa provocação aos “mauricinhos” e “patricinhas” (filhos de papai).



Ainda existem outros, como os Rockabillies, que amam o rock dos anos 50 e usam enormes topetes; os góticos, que cultuam as sombras e adoram poesias românticas, além dos hippies, rastafaris, metaleiros etc.



Há também as tribos pós-punk que são as mais temidas devido à sua agressividade. Entre elas estão os Carecas (skinhead brasileiro) e os White Powers (Podes dos Brancos). Ambas as trios são racistas, têm tendências nazistas e detestam homossexuais. Atualmente os punks não são encontrados com facilidade, mas ainda existem alguns grupos.



A origem de todas essas manifestações parece ser a contestação. A violência, a apatia, desleixo, a festa e a anarquia são as formas de contestação do mundo pós-moderno, dizem os sociólogos.



Sentimento de vazio



Ao analisarmos, perguntávamos o que tem por trás desse estilo de vida? Olhando a história, percebemos que muitas manifestações de repúdio e revolta com os padrões dominantes se deram de uma forma muito semelhante a esta, os Hippies, por exemplo.



Porém ficaram outras duas questões:



- Este fenômeno é um modismo, simplesmente?

- E estes jovens são assim para si ou para os outros, isto é, vestem-se e agem assim por convicção ou são assim para serem vistos e notados numa cidade/sociedade onde o anonimato é o maior medo?



Acredito que a morte da identidade pessoal promovida pela sociedade moderna e seus aparatos, não é o fim, ainda há, na alma do jovem, a capacidade de resistir a e contestar, mesmo que à margem do normal, na contra-mão da sociedade.



Acredito que o sentimento de vazio e de descontentamento vivido pelo jovem de hoje pode levar a uma resistência diante do mundo opressor, massificador e despersonalizador.



Acredito na pluralidade de opções e de estilos de vida, desde que acima de tudo esteja a vida, a liberdade, a felicidade, a construção (ou re-construção) da pessoa, não importa se ela esteja de calça azul-marinho e camisa branca ou com um macacão cor-de-abóbora da cabeça aos pés.

No "outro" para os outros

 Por: Frei Cláudio Van Balen, carmelita



Ninguém é somente o que ‘é’. Não há um ‘ser’ sequer somente a partir de si e para si. Todos são ‘de’, ‘a partir de’, ‘com’ e ‘para’. Isto é, cada ser - envolvido com outros – é “relação”. Se há desígnio – qual caminho – por onde se mover, é para que sejamos “membros de um corpo” - Corpo de Cristo – irmãs e irmãos na grande, imensa e única família de Deus. Esta é a essência e o objetivo de todo ser, do existir e do realizar.



Na relação com o outro, sou revelado a mim. O outro é o portador de minha transcendência. Sem ele(s) ou ela(s), minha insignificância permanece minha prisão; e ‘com’ ele(s) ou ela(s), meu valor se revela, minha potencialidade se desdobra para que minha grandeza se construa, meu círculo se amplie, minha missão se cumpra. Graças ao ‘outro’, configuro meu rosto e ocupo meu lugar neste Universo. O outro é a garantia e o sentido de meu existir.



À luz do “outro’ em mim, percebo que dor não é somente sofrimento, sacrifício é mais que simples renúncia, doação não é só perda, mas está a serviço da vida. O outro realmente me revela o grande mistério da vida: apoderar-se é privar-se, perder é ganhar; acumular é anular-se e despojar-se é se enriquecer. É como se Deus-em-si não existisse. Somente no "outro", ele pode ser meu ‘absoluto’. Transcendente eu sou no ‘outro’.



Sou convidado, impelido a receber, a acolher o outro – hospitalidade; sou intimado a ir ao encontro do outro – conviver, visitar, viajar. Realmente, o outro é meu absoluto, sobretudo quando carece de mim ou eu tenho alguma suficiência. Há tanto vazio a meu redor; e se há pobreza em mim – carência – há também riqueza. Cruel parece ser minha realidade: vivo às custas do outro; cruel se apresenta meu entorno: segurança não há, um devora o outro.



Mistério imenso me envolve. Meu viver implica o morrer de tantos. E também eu sou convidado a morrer – só quem ousa morrer terá a dádiva de viver. O grau de me despojar será o mesmo de eu possuir. Ao redor de mim, quantos despossuídos. Posso distribuir migalhas, dando ‘coisas’; hei de ajudar a reconstruir "relações", doando-me. Segurança autêntica não é construir cadeias, mas defender direitos e promover, integrar pessoas. Este foi o testemunho de Jesus. Seja esta a nossa aprendizagem.

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Frei Cláudio é sacerdote carmelita, escritor e poeta em Belo Horizonte.



FONTE:ESSENTIA